segunda-feira, 1 de novembro de 2010

A arte da ilusão - Descrição


Genericamente, o termo ‘Arte Psicodélica’ estendeu-se por toda a produção artística jovem produzida pela contra-cultura nos anos 60. As obras de inspiração psicodélica eram muito comuns em pôsteres de divulgação de shows, capas de álbuns, murais, revistas e fanzines.

  Em geral, tinham sua inspiração nas alucinações ‘caleidoscópicas’ proporcionadas pelo LSD. Isso porque o usuário, durante a experiência psicodélica, chega a estágios no qual a capacidade de receber e analisar de forma estrutural as informações do ambiente fica distorcida. Assim, é induzido a um estado de cruzamento dos sentidos e alteração das percepções espaciais.




Pôster com figura distorcida de Charles Chaplin

Dessa forma, os contrastes entre as cores são realçados e os objetos percebidos sob efeito tridimensional. Os artistas psicodélicos desejavam obter esses efeitos de vibração óptica através das cores e das formas das letras. Tudo isso gera a sensação de estar dentro de um caleidoscópio, o que leva a obras de arte que por vezes parecem fazer sentido apenas para quem embarcou na ‘viagem’.

Nesses aspectos, o psicodelismo tem bastante semelhança com o movimento surrealista. Afinal ambos foram desencadeados por importantes desenvolvimentos da ciência. Enquanto o Surrealismo seguia a evolução das teorias de Freud sobre o inconsciente, e a partir disso usavam os sonhos como inspiração, o psicodelismo inspira-se das alucinações criadas pela descoberta do Dr. Albert Hoffmann.
As principais características que distinguem um trabalho psicodélico são o uso de imagens fantasiosas, padrões de caleidoscópio, cores brilhantes e contrastantes, grande detalhamento das ilustrações, elementos simétricos, objetos amorfos e distorcidos, repetição de motivos e tipografia inovadora.

A arte também era projetada através da produção dos shows de rock, que incluíam os epetáculos de efeitos de luz através do tratamento de spots. Usando diversos materiais, artistas criavam transformavam lentes em projetores de imagens que pulsavam com o ritmo da música. Tudo isso misturado a filmes e slides que cumpriam o papel de representação visual da música, além do ambiente propício para as alucinações do público. Nas imagens do vídeo da música “Speak To Me” ,do Pink Floyd, está uma amostra da influência dessas técnicas nos shows da banda.


Mesmo parecendo algo tão novo e revolucionário, o uso de estados alterados de consciência como um recurso para a expressão da arte é praticado desde a pré-história. A classificação das formas de comunicação do homem pré-histórico como trabalhos artísticos é contraditória, entretanto, desenhos que remetem a experiências alucinatórias são nomeados como ‘entoptic art’. A simples repetição de círculos concêntricos na parede de uma caverna poderia ser considerada um tipo de entoptic art, por não ter aparentemente nenhuma relação com objetos e acontecimentos reais, e provavelmente relacionam-se com a falta de explicação dos fenômenos naturais para o homem primitivo.

Pôster de um festival de arte psicodélica

Apesar da sua ligação direta com os alucinógenos, a Arte Psicodélica foi uma forma de os artistas conseguirem manifestar as diferenças dessas para outras drogas como álcool, cocaína e ópio. O desenvolvimento da criatividade e a abertura das ‘portas da percepção’ foram elementos cruciais para esse movimento, de forma a promoverem experiências que estenderam as idéias daqueles jovens para outros aspectos. Tanto é que os temas das obras não se limitaram às viagens e caleidoscópios. Nelas vinham também embutidas críticas, ideologias políticas e sentimentos sociais e espirituais desencadeados por insights.
A boa repercussão da arte psicodélica foi muito bem aproveitada peara fins comerciais, alguns anos mais tarde. Os desenhos de cores fortes fizeram sucesso na estamparia de tecidos que são usados na moda até os dias atuais. O mercado publicitário por sua vez, aproveitou a onda em anúncios para a juventude, que se identificava com essa linguagem dita cool. As indústrias também incorporaram diversos elementos do design psicodélico nos seus produtos, e evoluíram com o surgimento de novas tecnologias digitais, que permitiram a criação de ilustrações mais complexas. Segundo Brian Wells diz no livro “Psychedelic Drugs”, “O movimento psicodélico, através do trabalho de artistas, ilustradores e escritores, elevou a um nível surpreendente a difusão da cultura… mas, tão logo uma grande difusão aconteceu, surgiu também uma grande emblemática de distorção e distorção do movimento.”

 
Ilustração psicódelica criada com tecnologia digital
 


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